Estratégia Empresarial com IA: Liderança no Próximo Normal por Celso Hiroo Ienaga
- Marina Bueno
- 17 de jul. de 2024
- 5 min de leitura
Atualizado: 28 de mai.

O tempo das estratégias fixas e planos quinquenais acabou. A economia digital e o cenário global em constante mutação exigem que empresários e executivos lidem com o que o professor Celso Ienaga chama de “Próximo Normal”: um ambiente onde a única certeza é a mudança. Para liderar nesse contexto, é fundamental abandonar premissas estáticas e desenvolver uma leitura refinada de tendências, movimentos de mercado e transformações
sociais e tecnológicas.
“A estratégia hoje precisa ser um organismo vivo”, destaca Ienaga.
Isso significa que decisões precisam ser tomadas com agilidade, mas sem renunciar à profundidade. A análise de cenários passa a ser contínua, incorporando variáveis macroeconômicas como a regionalização de cadeias produtivas, ESG, digitalização, inteligência artificial e novos hábitos de consumo. É a era da estratégia em fluxo, construída para adaptar e responder com inteligência às ondas de mudança.
O WIN APPROACH E A NOVA BÚSSOLA DA LIDERANÇA ESTRATÉGICA
Para orientar as decisões empresariais nesse contexto, Ienaga propõe o WIN Approach — um modelo de formulação estratégica baseado em três pilares centrais: Singularidade, Escalabilidade e Sustentabilidade.
Singularidade é o ponto de partida. Trata-se da capacidade da empresa de oferecer algo único, relevante e difícil de replicar. Em um mundo onde produtos e serviços se tornam rapidamente commodities, aquilo que diferencia a empresa — seja sua proposta de valor, sua experiência do cliente, seu modelo de entrega — é o que sustenta sua relevância.
Escalabilidade, por sua vez, diz respeito à capacidade de crescimento exponencial. Um modelo de negócio que depende de esforço proporcional ao crescimento está fadado a travar. Escalar com inteligência implica revisar processos, automatizar com propósito e usar a tecnologia para crescer sem perder consistência.
Por fim, a Sustentabilidade amplia o olhar estratégico para o longo prazo. Não basta crescer rápido — é preciso crescer com responsabilidade, preservando reputação, relações e o planeta. Empresas sustentáveis não apenas sobrevivem a crises: tornam-se agentes de transformação nos seus ecossistemas.
IA COMO ACELERADORA ESTRATÉGICA: DADOS, DECISÕES E DISRUPÇÃO
A Inteligência Artificial, nesse novo cenário, assume um papel central — não como uma panaceia, mas como um catalisador da adaptação e do valor.
“A IA será peça-chave para navegar ambientes flux: acelerados, flexíveis eexperimentais”, observa o professor. Mais do que automatizar, a IA viabiliza novas formas de pensar o negócio.
A IA pode impulsionar a tomada de decisões com base em dados, convertendo volumes massivos de informação em inteligência acionável. Isso permite aos líderes entender melhor seus clientes, prever tendências e tomar decisões mais rápidas e acertadas. Ao mesmo tempo, habilita a personalização em escala, transformando a maneira como produtos e
serviços são concebidos e entregues.
Além disso, a automação estratégica — apoiada por IA — libera os times de tarefas repetitivas e permite foco em inovação, design de serviços e construção de relações com stakeholders. No entanto, como alerta Ienaga, é preciso atenção redobrada aos paradoxos éticos, regulatórios e culturais que acompanham o uso da IA.
“Automatizar o caos ou perpetuar vieses com algoritmos é um risco real”, pontua.
DA TEORIA À PRÁTICA: PREPARAR A ORGANIZAÇÃO PARA AMBIENTES INCERTOS
Frente a esse cenário, a organização do futuro precisa se tornar adaptativa. Isso passa por revisar estruturas, fluxos de decisão e principalmente a mentalidade das lideranças.
“É necessário desaprender, abrir espaço para o novo e cultivar um mindset de crescimento”, afirma o professor.
A governança deixa de ser meramente burocrática e passa a orquestrar a exploração de cenários, estimulando o risco responsável e o aprendizado organizacional.
Nesse novo paradigma, as empresas devem se organizar com base em drivers estratégicos, conectando suas ações a três eixos: gerar valor único, crescer com eficiência e liderar com responsabilidade. Isso implica mapear e desenvolver competências para ambientes de incerteza, como pensamento crítico, agilidade emocional, intuição estratégica e capacidade de aprendizagem contínua.Outro ponto fundamental é que a inovação não pode ser encarada como fim em si mesma.
“Inovação só faz sentido se estiver conectada a um propósito claro de futuro”, reforça Ienaga.
É a inovação que resolve problemas reais, que nasce do entendimento profundo das dores do cliente, e que é nutrida por um ambiente cultural que valoriza a curiosidade, o diálogo e o erro como parte do processo de evolução.
PENSAR ECOSSISTEMA: A EMPRESA COMO NÓ DE UMA REDE INTELIGENTE
A visão estratégica contemporânea também exige que os líderes deixem de ver suas empresas como ilhas e passem a operar a partir de uma lógica de ecossistema. Isso significa buscar sinergias com outros atores — parceiros, startups, universidades, governos — e explorar caminhos de inovação aberta e de criação de valor compartilhado.
Essa abordagem amplia o potencial de impacto e permite que as empresas estejam inseridas em dinâmicas colaborativas mais resilientes e inovadoras. Pensar ecossistema é, em última instância, reconhecer que nenhum negócio cresce de forma sustentável isoladamente. É preciso construir alianças, gerar aprendizado conjunto e criar valor que transborde os limites do CNPJ.
ESTRATÉGIA ORIENTADA AO VALOR: EFICIÊNCIA E VISÃO DE LONGO PRAZO
Para além das modas gerenciais, o que sustenta um negócio no tempo é sua capacidade de gerar valor com consistência. Isso passa por tomar decisões financeiras não apenas com foco no lucro imediato, mas considerando eficiência operacional, geração de caixa e retorno sobre o capital investido. A estratégia precisa ser um instrumento de construção de
valor — e não de ilusão passageira.Líderes que adotam essa lógica são capazes de equilibrar investimentos em transformação digital com o cuidado em preservar a cultura, manter a organização ágil e não perder de vista o cliente. Como lembra o professor,
“o melhor termômetro de qualquer estratégia ainda é o cliente: estamos resolvendo o problema certo, da melhor forma possível?”
ESTRATÉGIA COMO LIDERANÇA DO POSSÍVEL
Diante de um mundo em fluxo, marcado por rupturas tecnológicas, mudanças culturais e reconfigurações econômicas, a estratégia empresarial precisa ser reformulada. O modelo defendido por Celso Ienaga parte de uma visão mais ampla e sistêmica, que combina dados, propósito, pessoas e tecnologia para gerar valor sustentável. O desafio dos líderes contemporâneos não é apenas acompanhar o ritmo das mudanças, mas orquestrá-las com inteligência, coragem e clareza de intenção. A nova ambição estratégica não está apenas em crescer, mas em crescer com coerência, relevância e impacto. Trata-se de alinhar singularidade, escalabilidade e sustentabilidade em um mundo onde o único constante é a transformação.
A escola de negócios Árete, ao promover formações como essa, se consolida como um espaço de reflexão de altíssimo nível — onde empresários e executivos podem ampliar repertório, repensar escolhas e se preparar, de forma profunda, para o futuro que já começou. Ao olhar para frente, uma coisa fica clara: as empresas que prosperarão não serão necessariamente as maiores ou as mais tradicionais, mas aquelas que forem capazes de unir visão estratégica, agilidade adaptativa e comprometimento com um valor real — para seus clientes, para a sociedade e para o planeta.
Em última análise, a liderança estratégica do futuro não será apenas sobrecontrole ou previsibilidade. Será sobre inspirar, conectar e transformar. E isso exige líderes que não apenas compreendam o presente, mas que consigam vislumbrar e construir, com coragem e consistência, os próximos capítulos da economia e da sociedade.
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